Muito Mais

16 de dezembro de 2013

Fico solteira, mas não passo por...

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... fazer coisas bregas de casal.
Alguns homens não sabem ser românticos e confundem isso com breguice. E quando você rejeita falar com ele com voz de bebê, dividir milkshake com um canudinho rosa e outro azul, fazer massagem nos pés dele, etc. e ele fica magoadinho, você sabe que está na hora de ter uma conversa séria.

... planejar uma família depois de 3 meses de namoro.
Ok, o garoto ainda nem disse que te ama, ainda comenta de outras garotas com os amigos, prefere sair a ficar em casa com você e discutia relacionamento aberto até ontem. Aí ele chega perguntando quantos filhos vocês vão ter e qual vai ser o nome deles? Foge.

... cumprir obrigações desnecessárias de casal.
Você acha que o namoro está indo às mil maravilhas, até que ele olha seu celular e pergunta: "por que seu plano de fundo não é uma foto minha?". No início é engraçado, mas depois ele fica insistindo. E aí ele coloca uma foto sua no wallpaper do computador. E enche o quarto dele com retratos seus. E vocês ficam parecendo casal nem.

... ir à encontros duplos/triplos/quádruplos/etc.
É como a primeira vez em que a sua mãe te leva na casa de uma amiga dela que tem filhas da sua idade. Você está o tempo todo sendo observada e pressionada para fazer amizade com meninas que você nem tem vontade de conhecer. Pior ainda, seu namorado fica tentando ouvir a conversa de vocês na expectativa de que você esteja falando dele. E se você ficar calada o tempo todo ou der o menor sinal de que está puta com a situação, sabe que vai rolar discussão depois.

... não ser vista mais como uma pessoa só.
Você é pressionada a trocar a sua foto "solteira" do perfil por uma com o seu namorado. Semanas depois, você não pode ir pra lugar nenhum sozinha sem ouvir um "e cadê seu namorado?". Poucos meses depois, você perde seu próprio nome e passa a ser simplesmente a "namorada do fulano".

... crises de ciúme desnecessário.
Sendo sincera, depois de arranjar um namorado homem nenhum olha mais pra você. Mesmo os que não te conhecem parecem ter um faro de "hmm, ela tem cara de que tem namorado, melhor nem olhar pra ela". E aí se você resolve ser simpática com outro garoto ou usar uma roupa que mostre mais o corpo, e você fica FELIZ porque alguém ainda repara que você existe independentemente do seu namorado, ficam falando que você está dando em cima do dito cujo.

... indiretas pós-término nas redes sociais.
Admita, você já fez isso! É inevitável! Você está com raiva, acorda todos os dias chorando pensando em tudo que você quer falar pra ele. Mas você não pode falar isso pessoalmente, pois não quer ver a cara dele. Nem por telefone, pois isso seria estranho. Então nem você nem ele têm outra saída senão encher o feed dos outros de coisas desnecessárias.

14 de novembro de 2013

Fotografia

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Tinha uma amiga no nosso grupo que era um inferno: não importa pra onde, levava a câmera de fotos. Se fosse na padaria, clic no bolo. Se fosse no clube, clic na piscina. No restaurante, clic na mesa. Na festa, clic no dj e nas bebidas. Na praia, clic no mar. E clic na gente, o tempo todo. Não se podia passar 5 minutos em paz sem ouvir um "sorria" ou "diga x".

Na maioria das vezes, ela nem aproveitava o momento. Em vez de comer a comida, mergulhar na piscina, conversar e rir com os amigos, dançar, era só "peraí, deixa eu tirar foto disso" ou "peraí, não se mexe que essa pose tá ótima". Aquilo não fazia sentido pra gente. 

Até que gostávamos de ver as fotos, mas, alguma hora, alguém chegou e perguntou: "por que você não para de tirar foto e vem aproveitar com a gente?", e ela respondia: "porque eu quero reviver o momento depois".

Qual momento? Para a nossa visão, todos os momentos dela eram iguais: dela tirando foto das coisas. Ela ia reviver aquele momento de estar tirando foto? Memórias inesquecíveis, hein? A quem ela estava querendo enganar?

Uma vez um zé sem-noção apagou sem querer todas as fotos da memória da  câmera dela. No dia seguinte, ela acordou com amnésia. 

24 de outubro de 2013

Minha primeira Barbie

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Lá em casa era cheio de tabus. O Natal pra mim era a pior época do ano. Não podia pedir Barbie, panelinha, maquiagem, filme da Disney, nada disso. Eu nunca ganhava nada do que eu queria - só algumas roupas sem graça, bola, videogame, jogo de tabuleiro, essas coisas. Acho que eu tinha todos os jogos de tabuleiro do mundo, de tanto que eu ganhava. Aos 4 anos já não acreditava mais em Papai Noel.
Quando eu ia com a minha mãe nas Lojas Americanas, sempre passava de fininho no corredor das Barbies, só para admirar um pouco. Elas eram tão bonitas. Depois, eu perguntava para a minha mãe:
- Mãe, por que eu não posso ter uma Barbie?
- Minha filha, as meninas que brincam de Barbie, quando viram mocinhas, querem ficar magras iguais à ela e, por isso, acabam fazendo coisas malucas e ficando doentes. Elas deixam de comer, ou às vezes vomitam depois de comer.
Aquilo não fazia sentido para mim. Eu olhava para todas as minhas coleguinhas e suas coleções de Barbies e não conseguia imaginá-las fazendo aquilo depois de crescidas. Às vezes, eu perguntava se elas tinham vontade de ficar igual à Barbie. Algumas diziam que sim, porque ela era muito bonita. Outras diziam que não, porque não gostavam de cabelo loiro. Outras diziam "sei lá, ela é só uma boneca".

Na escolinha, sempre que tinha teatrinho, aula de culinária, contação de história, brincadeira de fantasia, minha mãe ia lá e brigava com a professora. Dizia que ela estava "estragando" a minha educação. Eu morria de vergonha quando ela fazia isso. Eu gostava das atividades. Aos poucos, a escola foi deixando de fazer essas coisas legais.

Antes de dormir, eu pedia para ela me contar histórias, mas depois fui desistindo de pedir. As histórias da minha mãe eram chatas. Eu gostava de histórias de fantasia, com fadas, bruxas, duendes, magia. Minha mãe ficava contando a biografia de umas tais de Amelia Earhart, Rosa Luxemburgo, Marie Curie, Rosa Parks, que eram um saco. Eu não conseguia entender a graça que ela via nessas histórias, parecia mais uma aula.

Depois que eu fiz uns 5 anos, ela disse que era melhor eu parar de usar vestido e saia, porque era desconfortável quando eu quisesse brincar de correr, esconder, pular - e ela também não queria ficar lavando. No início eu até gostei, porque realmente era mais confortável. No entanto, nas festinhas, todas as meninas estavam lindinhas, de vestidinho, cachos e lacinhos - e eu sempre de camiseta suja, rabo de cavalo e shorts. Me sentia feia ao redor delas. Uma hora, também, minha mãe decidiu que não ia mais comprar coisa rosa para mim, porque era "cor de menininha". Eu não entendi. Eu era uma menininha.

Depois da festa dessa menina chamada Yasmin, cujo tema era o da Bela Adormecida, eu voltei para casa chorando. A Yasmin tinha tudo o que eu queria e que a minha mãe não me deixava ter. Minha mãe entrou no quarto perguntando qual era o problema, e eu falei que estava brava com ela. Que ela não me amava de verdade, que ela preferia que eu tivesse nascido menino. Ela se sentiu culpada e resolveu me dar um presente incomum - ela me deu o filme da Cinderela. Eu fiquei muito feliz. Assim que eu cheguei em casa, fui ver. Via todos os dias. Mas começou a ficar insuportável assistir depois de um tempo. A cada segundo, minha mãe chegava e falava:
"Viu, filha, como a Cinderela é boba de ficar obedecendo a madrasta desse jeito em vez de fugir?" ou
"Se ela fosse mais esperta, ia arranjar um emprego e se mudar logo daí" ou
"Você acha mesmo que ela ficou bonita com esse vestido todo empiriquitado?" ou
"Você sabe que não dá pra se apaixonar por alguém só porque dançou com ele, né?" ou
"Aposto que o príncipe vai fazer ela trabalhar igual a madrasta fazia" ou
"Ou então ela vai virar uma mimada e tratar as empregadas do castelo igual a madrasta fazia com ela".
Eu já tinha cansado. Comecei a parar de obedecer minha mãe desde esse dia. Ia para a casa das amigas brincar de Barbie e casinha em segredo. Na minha listinha de Natal, que eu não deixei minha mãe ver, só pedi coisa que ela proibía e alguns vestidinhos bonitinhos também. Cansei de brincar de bola, de correr e de pular, porque alguma menininha metida falou que eu parecia um menino gostando dessas coisas e isso me afetou muito. Eu não queria parecer um menino, eu queria parecer eu mesma. Quando minha mãe perguntava o que eu queria ser, eu sempre respondia "presidente", mas, só de raiva, passei a responder "atriz e modelo", para ela ter uma daquelas crises dela.

E aconteceu a vingança. No Natal, eu estava super feliz, cheia de expectativas. Ajudei meus avós a arrumar a casa, assar o peru e tudo. Hora dos presentes, primeiro presente:
um livro sobre sexualidade. Fiz careta, minha mãe ficou toda sorrisos. "É para tirar as suas dúvidas", ela disse. Mas que dúvidas?
Segundo presente, um jogo de tabuleiro. Outro?
Terceiro presente, um jogo de lápis de cor. Mas eu já tinha bastante isso...
Último presente, um boné sem graça.
Fui correndo para o banheiro chorar. Perguntei para a minha vó porque eu não ganhei nada que estava na listinha. Ela disse que tinha pedido autorização para a minha mãe para comprar aquelas coisas e ela não deixou nada. Eu chorei mais ainda. Quis dormir na casa da vovó porque estava muito irritada com a minha mãe para sequer ficar perto dela.

Acordei com o barulho da minha vó fazendo café. Fui meio sonolenta até a cozinha, onde haviam város pacotes de presente. Meu vô, que estava sentado lá, disse:
- Parece que o Papai Noel esqueceu alguns presentes no telhado ontem.
Tinham uns cinco pacotinhos ali. Abri um por um na maior pressa. O primeiro era um vestido.
O segundo, um livro de contos de fadas.
O terceiro, minha primeira Barbie.
O quarto, um conjunto de panelinhas de brinquedo.
O quinto, outra Barbie, mais chique, daquelas com o cabelo que muda de cor.
Dei o maior sorriso do mundo, mas pensei que assim que a minha mãe visse isso ia querer jogar tudo fora. Então minha vó os deixou na casa dela, e fui cada vez mais frequentemente para lá. Às vezes, dava saudade de jogar bola, videogame, correr, pular. Então era só ir para a casa da mamãe que eu podia brincar disso à vontade. Foi a primeira vez que eu me senti livre na vida.