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18 de janeiro de 2013

Uma história real

Decidi contar aqui uma pequena parte da minha própria vida, uma parte que eu considero ruim. Ultimamente, o assunto de "bullying" está na moda, e estão ocorrendo várias divulgações de informações em escolas a respeito disso, causando mal-entendidos. Para mim, bullying - ou o ato de tornar a vida de alguém um inferno - não é simplesmente dar apelidos desrespeitosos para alguém, ignorá-lo ou excluí-lo do seu grupo de amigos, é algo bem mais sério. E eu acredito que aconteceu comigo.

Quando eu morava no sul, era amiga de quase todas as garotas da minha sala, nos dávamos bem e eu não tinha que me preocupar se eu aparentava ser infantil demais - tínhamos todas de 8 a 10 anos, a maioria ainda brincava de boneca, como eu, e nós mesmas nos considerávamos crianças.

Quando eu completei 9 anos de idade, fui para o Rio, e entrei numa escola que eu acabei não gostando muito por ser religiosa. Logo depois, mudei para uma escola mais alternativa, menos rigorosa. Nessa escola, as garotas já eram todas mais velhas, com uns 12, 13 anos, e agiam como se tivessem mais. Se recusavam a brincar com brinquedos, só falavam de garotos, se exibiam para eles e falavam palavrão. E, acima de tudo, abominavam pirralhinhas como eu. De cara, quando ingressei na escola, elas já não foram muito com a minha cara - eu não me interessava por garotos, tirava notas ótimas e me comportava como a criança que eu era e me orgulhava em ser. Não demorou muito para que elas começassem a me chamar de retardada, pirralha, idiota - mas, quando faziam isso, falavam que era só brincadeira. Eu deixava passar, mas elas continuavam me chamando disso cada vez mais frequentemente e com menos tom de brincadeira. Bastava eu tropeçar, falar alguma bobagem, entrar na sala errada ou chegar antes delas na fila da cantina que elas faziam uma rodinha em volta de mim, me xingando até que eu chorasse. Contei isso para a minha mãe, que disse para eu contar à psicóloga da escola. Foi o que eu fiz. No dia seguinte, a psicóloga chamou todas nós na sala dela, e perguntou para mim o que eu tinha feito para elas me xingarem daquela maneira.
"Nada, eu nunca fiz nada para elas", eu disse.
"Isso é mentira, elas são boas meninas, não podem estar te xingando sem motivo".
"Mas é o que elas estão fazendo!"
"Tem certeza que você nunca fez nada para elas? Meninas, vocês querem falar alguma coisa sobre isso?"
As meninas deram um sorrisinho besta e disseram:
"Ah não, não é por nada, a gente só faz isso por brincadeira, a gente xinga todo mundo de brincadeira!"
Não era verdade. Elas não xingavam os outros colegas e muito menos umas às outras, era exclusivamente comigo. A psicóloga percebeu que elas estavam mentindo, mas só disse:
"Bem, então parem de fazer essas brincadeiras com ela, porque ela não gosta? ok?"
"Ok!"
Achei que essa conversa resolveria alguma coisa. No entanto, assim que saímos da sala, uma delas disse:
"Se você fizer ela ligar para a minha mãe, eu vou te matar, sua idiota!"
"Mas por que vocês me xingam assim? O que foi que eu fiz, afinal? Desculpa se eu fiz alguma coisa que vocês não gostaram..."
"O que você fez? Você nasceu retardada! É por isso que a gente te odeia!". Ela me deu um beliscão e as outras riram. Eu comecei a chorar.
Durante o resto do ano, tentei fazer amizade com outras pessoas, mas todo mundo tinha uma visão ruim de mim. As meninas espalhavam mentiras sobre mim para todo mundo, de que eu tinha piolhos, comia meleca, roubava as coisas dos outros, não tomava banho, e todo mundo acreditava. Ou tinham nojo ou tinham pena de mim, mas não queriam ser meus amigos. Não havia ninguém para desabafar, para brincar, ou pelo menos alguém que me defendesse.

Continuei falando tudo isso para a psicóloga, mas ela já não se importava mais com o meu caso, me ignorava, falava que não tinha solução, que eu teria que "conversar com as meninas a sós para tentar melhorar essa situação". Eu chegava chorando em casa, e minha mãe brigava comigo, dizia que eu era boba por não me defender, que eu não tinha amigos porque era chata e vivia de cara feia, que eu não deixava as outras pessoas se aproximarem de mim e queimava meu próprio filme, que eu devia me enturmar melhor. Cansada de me ver sempre sozinha em casa, ela começou a me obrigar a ligar para as minhas colegas para convidá-las a virem para a minha casa e tentar ser amiga delas. Eu implorava para não ligar, chorava, mas todo fim de semana eu acabava ligando para alguém para não ficar de castigo. Minhas colegas começaram a me ridicularizar por isso ("até parece que eu vou sair com você") e implicavam comigo cada vez mais por eu tentar me aproximar delas. Me trancavam na sala durante o recreio, roubavam as coisas que eu emprestava para elas, rasgavam os desenhos que eu fazia, me batiam quando ninguém estava olhando, me obrigavam a fazer o dever de casa delas, quebravam as minhas coisas. O recreio inteiro delas era dedicado a me fazer sofrer, e elas se divertiam cada vez mais com isso. Não ficavam satisfeitas até me ver chorar, e nem mesmo meus pais ou a coordenação escolar se preocupavam em me afastar delas. Implorei várias vezes para trocar de turma e para sair da escola, mas meus pais viviam dizendo que, se eu fizesse isso, iria "me render à situação". Tive que aguentar isso sozinha por mais de 2 anos, e eu ainda era uma criança.

Sei que fui boba em não me defender e deixar isso chegar até esse ponto. Hoje em dia, eu agiria diferente, mas naquela época eu não tinha maturidade para isso. As coisas só ficaram mais calmas quando as duas meninas que mais implicavam comigo saíram do colégio, e as outras perderam a vontade de fazer isso, apenas falavam mal de mim pelas costas. Nenhuma menina desse grupo levou suspensão ou sequer uma advertência para casa por tudo que elas fizeram. A escola se negou a reconhecer que foi bullying, e considerou que foi uma briga em que os dois lados tiveram culpa, e eu só  me negava a admitir que também tinha. Eu admitiria se soubesse o que foi que eu fiz de errado, mas ninguém sabia ao certo. Sempre quis saber qual foi a minha culpa, de ser mais nova que elas? De tirar notas melhores? De ser feia, desengonçada, falar um pouco esquisito? De não querer dançar funk ou sei lá?

Tem meninas que se drogam ou até se matam por passar muito menos do que eu passei. E eu escrevi tudo isso para dizer que você não carrega esse peso para a vida toda. A escola é apenas uma fase da vida, e pode ser uma fase ruim, mas qualquer maltrato, qualquer memória negativa pode ser superada. Não se deixem levar pela opinião de pessoas que não te conhecem e não gostam de você. Sim, é triste lembrar disso, mas o que você é agora é apenas uma parte da pessoa maravilhosa que você pode se tornar, se tomar as decisões corretas e se superar as coisas ruins que podem fazer com você.

2 comentários:

  1. Terminei, e, se eu fosse do tipo q chora normal como as aoutras pessoas eu taria fazendo isso, to beirando as lagrimas e vou fazer um post contando o meu caso que tinha ate um motivo, O '"grande motivo" era porque eu era gordinha e alta, e não pequena, suoer magra e delicadinha q nem as meninas. Todas elas gostavam muito de mim, a não ser um grupinho, mas qto as meninas a gente conseguia conviver. mas ai começou os meninos a me chingarem e isso tudo desde qdo eu tinha 6 ano ate uns 10, e foi q chegou uma hora q todo mundo me chingava, eu tinha varios apelidos maldosos e ate musicas de mal gosto. Graças a Deus hoje eu lembro disso meio rindo, porque eu consegui apagar e talvez me tenha deixado mas forte mas tambem mais timida. Emfim, hoje eu posso esfregar na cara de todos que me chingavam, ainda mais q aqueles meninos viravam meus amigos e ao inves dos "Sua baleia, gorda...." é "Obrigado por ter ajudado isso, nossa vc tá linda hoje" e algo assim, mas foi uma fase horrivel em q todo mundo me chingava e enventava mentiras sobre mim.
    Amada amiga vc sumiuuuu, sua anta! (desculpa to falando como falo no telefone com as minhas amigas sumidas hahhaha) enfim, aqui estamos nos e eu fiz o teste lá de baixo e acho q ta errado, porque meu ano passado foi PESSIMO é a melhor palavra a se descrever e o teste falou q vivo num mar de flores, eu fiqeui tipo: o q?? sua maquina louca! hhahahahaha
    beijão grande, saudade de vc!!!!
    lamourmonage.blogspot.com

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  2. Ain fia se vc excluiir esse post eu te mato ein? hhahahaha Eu vou citar ele num post também, aquele q disse q faria. É então, eramos chingadas por "defeitos" diferentes, pra vc ver o como as pessoas são ignorantes e gostam de cuidar da vida dos outros.
    Qto ao meu more, agente brigou e td mas agr tá tá indo haha na medida do possiel, eu gosot mto dele eentão somos pacientes.
    Fiquei sentida do q vc disse do seu namorado, ain manoou mas pq acabou??? Enfim, agora é bola pra frente, e hora de distribuir os numeros pros caras da lifa, ceerrto? hahaha. Não fique triste, eles não merecem.
    beijãoooooooo
    lamourmonage.blogspot.com

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